sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Estado de espírito



Uma imagem às vezes vale mais do que mil palavras. Mesmo.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Chove


Estava parada no farol, debaixo de um viaduto. Gotas de chuva escorriam pela beira da construção e pingavam no vidro do carro. O entorno era cinza escuro. Era uma noite de quinta-feira e a cidade tinha as suas infelicidades camufladas. Tão escondidas, que a sombra de um capuz preto passou por trás do carro sem ela nem perceber. Estava sozinha, ouvia música na rádio. Sorrateiramente a sombra deslizou e se transformou em um homem parado na janela do passageiro. Ao olhar para o lado, sua barriga gelou e a garganta ficou seca. Um fantasma magro de olhos profundos. Sem pestanejar veio o golpe brutal que quebrou o vidro da janela. Um barulho forte e seco como a própria pancada. O vidro estilhaçado caía aos poucos, enquanto ele sem pensar no próprio braço tentava agarrar a bolsa em cima do banco. Ela assutada gritou de dentro do carro, mas os gritos foram abafados. Ninguém ouviu. Niguém ao redor se mexeu. Apenas ele. Por um momento se olharam nos olhos. Deviam ter a mesma idade. Assustado com o grito ele fugiu correndo, deixou a bolsa e partiu segurando o braço ensanguentado. Desapareceu no escuro. Ela ficou sozinha. Sentia o peito estilhaçado junto com o vidro. Não sentia raiva, nem revolta, apenas tristeza. Por que aquilo foi acontecer? De quem era a culpa nessa história? Era dela, que tinha deixado a bolsa em cima do banco? Era dele? Da desigualdade social? Da sociedade? Dos políticos? Do capitalismo? Da fome? Do desemprego? Da luta pela sobrevivência? Do darwinismo social? De quem? De quem? Tudo isso no tempo de um farol. Abriu, ficou verde, saiu andando, engatou a marcha enquanto secava as lágrimas. Queria que essa história fosse mera ficção, mas não era.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Luz de natal

Chega o natal e com ele as varandas iluminadas com luzinhas de todas as cores e tipos de piscagens são compradas com maior orgulho na 25 de março. Pois caro leitor, aqui vai o meu conselho da semana: antes de tunar a sua varanda, pare e pergunte se a sua decoração de natal não está deixando a sua casa com cara motelzinho de Mongaguá. Daqueles com luz neon e vermelha, manja? Porque a mim, a única coisa que essas varandas inspiram é o suicídio. Não que eu não goste de decoração de natal, mas tem coisa que é too much. E digo mais a vocês caros vizinhos, a sua cafonice ainda por cima é anti ecológica. Como é que ninguém ainda tocou na questão do consumo de energia? Será que o natal é tão sagrado, que pode fuder com o planeta enquanto eu tenho que fechar a pia para escovar os dentes? Como ninguém ainda falou no quanto essa cafonice natalina aumenta o consumo de energia? Todos os dias vejo matérias dizendo como as previsões de aquecimento global são na verdade piores do que as piores das previsões. Então por que na época do natal todo mundo se esquece disso? Se você meu amigo, quer ter luzinhas na sua varanda, dê um jeito de tornar a sua iluminação mais ecológica: coloque seu porteiro para pedalar e gerar energia, sei la, vire-se. Mas faça alguma coisa para que eu, você e todo mundo possamos ter os próximos natais também. E pra vc aí, que está me achando alarmista demais, sabe o que eu digo? Glub, glub, glub.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Cisca

A história destes dois é uma história curiosa.

Não é invenção de verso, nem de prosa.

Eu juro que é real, aconteceu perto da roseira, ali no meu quintal.

Conta Francisca foi amor `a primeira vista.

Não foi o destino, nem um amigo que deu o grande empurrão.

O cupido desta história chama brisa de verão.

Quando pela primeira vez viu a menina, Cisco se sentiu flutuando: perdeu o controle das pernas e foi parar nos olhos dela voando.

Olhão verde, arregalado. Pronto, lá estava ele todo apaixonado.

Naquele momento, Francisca não conseguiu segurar: uma lágrima escorreu pelo rosto, desceu pelo pescoço até bater no seu colar.

O fato impressionante, é que Cisco fez a garota derramar uma gota gigante.

Mas não se engane pensando que esta história se termina com tristeza.

Se a menina chorava, era de felicidade. Finalmente tinha encontrado um amor assim de verdade.
Escrever para nao morrer de raiva.

Do caralho, da puta que o pariu, do transito.

escrever para nao morrer de amor.

e pouco a pouco ir juntando as palavras tao solitarias e abandonadas pelo vocabulario popular.

Escrever para nao morrer de tedio nas linhas retas do texto.

Para nao morrer de tristeza com Z, que deixou o S para fora da palavra choramingando.

Escrever para nao morrer de decepçao, frustraçao, todas as palavras com um começo diferente e o mesmo fim. Escrever para nao viver de pontos, colocar vrigulas, pausas, acentos.

Escrever que é para viver feliz.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Todas as mulheres do mundo

Tem dias que eu acordo querendo ser Joana D´Arc. Vestir minha armadura de ferro para enfrentar os meus demônios. Ter a força de lutar pelo que eu acredito, nem que o final da minha história seja na fogueira. Em outros queria ser Agatha Christie e inventar pra minha vida grandes mistérios em viagens pelo Orient Express. Ou talvez como Clarice Lispector, responder com páginas cínicas aos tapas que a vida às vezes distribui. Quem sabe até me embriagar e cantar as amarguras dos meus amores com a voz rouca da Billie Holiday. Ser Frida Kahlo e assumir todas as minhas diferenças, pintar numa tela as minhas entranhas. Me transformar na musa de Serge Gainsbourg, prazer, Jane Birkin. Atirar brioches pela janela e ser lembrada como Maria Antonieta, a mulher mais fútil da história. Tem dias para tudo, até para ficar feliz de ser apenas eu.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Lista

Como estamos nos aproximando da virada do ano, resolvi fazer uma lista coisas que eu sempre quis fazer:

- entrar num táxi e dizer: motorista, siga aquele carro ( e como nos filmes sair sem nunca pagar)
- pintar o cabelo de ruiva
- jogar um copo de vinho na cara de alguém
- comprar uma moto
- beijar a Natalie Portman
- prever o futuro
- dizer em alto e bom tom: eu me demito
- viajar para Índia
- ganhar o oscar
- o prêmio Nobel também não seria nada mal
- cair numa piscina de gelatina
- e obviamente nunca, nunca parar de sonhar

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Então, é natal?


Eu não tenho tido tempo para escrever. Mas como também não tenho tido tempo de ir ao banheiro, prometo assim que der uma brecha levo meu laptop para lá e já resolvo as duas coisas ao mesmo tempo. Alguns amigos reclamam de não me encontrar. Pois saiba que nem eu me vejo mais. Quando acordo e olho para o espelho do banheiro, meu reflexo já está na cozinha mandando café fervendo pela goela abaixo. O que me alivia é que sei que eu não sou a única. A falta de tempo é mesmo o mal da nossa época. Eu falo com a minha mãe entre um farol e outro, leio enquanto almoço, trabalho enquanto estou dormindo, namoro no tempo de um café ( expresso). Por isso resolvi escrever essa carta de desabafo a você, Papai Noel. Desculpe a sinceridade, mas não dá para largar a coxa de frango, subir no trenó e acelerar esse processo natalino? Tô com pressa de final-de-ano. Tô com vontade de um pouco de calma daqueles dois dias em que o mundo inteiro pára para cortar o peru, se embebedar com a família, esquecer do trabalho, procurar os presentes debaixo da árvore, ou no meu caso procurar a árvore, já que a minha família nunca foi muito ligada nesse lance de tradição. Quero que cheguem logo aqueles dois dias onde todo mundo já parou de se esmagar no shopping para comprar presente, o panetone já está na dispensa, o trânsito está mais tranquilo e a minha avó já está fazendo bobe no cabelo. Eu juro Papai Noel, se você adiantar o natal, eu aguento qualquer coisa: revejo pela quadragésima primeira vez todos os filmes do Didi, a Xuxa vestida de princesa, a missa do Galo. Não precisa nem trazer presente, só um pouco de sossego já tá bom demais. Por falar em presentes, vou aproveitar para tirar uma dúvida que eu tenho desde os cinco anos: como você faz para chegar a tempo na minha casa, com tanto pacote para entregar pelo mundo? Se por acaso minha teoria de que você controla o tempo for confrimada, me empresta o seu relógio?

Tão pequenos


Detalhes dessa vida: a diferença entre tudo indo e tudo lindo é apenas um L.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Qualquer coisa

Se nem sempre a gente se sente interessante, nem sempre a gente tem coisas a dizer. Nem todo dia é 31 de dezembro, nem toda hora é festa, nem todo mundo é incrível o tempo todo. Talvez essa seja apenas uma justificativa para eu não escrever nada demais hoje, ou talvez seja uma resposta à felicidade intensa que eu vejo estampada nos sites de relacionamento. Claro que o álbum de fotos das pessoas são apenas fragmentos, que juntos, dão a impressão de uma vida perfeita. Mas eu, no auge do meu dia banal, vejo tudo isso e tenho a impressão de que só eu não vivi. Mas é mentira, é pura impressão, eu sei. Minha avó já dizia, que cabeça vazia é a casa do demônio e um dia banal, a própria besta. Basta um minuto de sossego para que eu pare e pense no que pode estar errado, no que falta na minha vida, porque o dia de hoje não foi excepcional. Simplesmente porque não. A resposta é tão banal quanto o próprio dia. É assim, a vida é feita de momentos lacuna, onde a gente preenche a cabeça com nada que preste, para no dia seguinte jogar tudo fora e comçar de novo. Um dia banal serve pra isso, para fazer filosofia barata, balanço de vida meia boca e tentar justificar o tédio com frases feitas da internet. Como esta, que eu ouvi dizer que é da Clarice Lispector: e depois da felicidade, vem o que? Sinceramente cara Clarice, não sei, mas que a gente está sempre à espera de alguma coisa, a gente está. Mesmo num dia como hoje.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

La Valse d' Amélie

Eu queria escrever as coisas mais lindas do mundo, um poema emocionante, traduzir a trilha de Amélie Poulain em poemas. Mas minha cabeça esta repleta de amor e ele, com ciúmes não me deixa pensar em outras palavras.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Mau humor

Em dias como hoje eu tenho vontade de:
- degolar uma freira
- pisar na cara de uma idosa
- depilar o Tony Ramos com cera quente
- virar mulher bomba
- quebrar uma loja inteira de cristais
- arranhar uma lousa
- cortar os pulsos com uma faquinha de patê
-ser abduzida por um etê
- dormir e acordar ontem

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Comer é o remédio

Estava parada no farol, quando uma mocinha de boné e uniforme verde arriscou a própria vida, passou entre os carros e motos para me entregar junto com o jornalzinho da manhã, uma amostra grátis de iogurte. Como ainda não tinha tomado café, depositei o jornal no banco do passageiro e fui sedenta em direção à novidade. Enquanto o farol não abria procurei saber qual era o sabor do iogurte no rótulo. E foi neste momento que tive uma estranha supresa. No rótulo do iogurte estava escrito "pêssego com Fitoesteróis". Acumã? Vim o caminho inteiro matutando. Fitoesteróis, que catzo era aquilo? Chegando em casa liguei a tevê e foi aí que os Fitoesteróis e eu fomos devidamente apresentados. O reclame explicava que a tal substância com nome de anabolizante ajudava a reduzir o colesterol. Medo. É paranóia minha ou os alimentos hoje em dia estão parecendo um monte de remédios? Um iogurte baixa o colesterol, o outro libera o trânsito intestinal. Aliás, abrindo um mini parênteses, que expressão é essa? Pronto, fechei parenteses pra gente não descambar na escatologia. O fato é que às vezes acho tudo isso uma neura. Se as coisas tivessem menos química e fossem mais gostosas, já não fariam bem à nossa saúde naturalmente? Onde já se viu iogurte que baixa o colesterol? E se eu tomar na dose errada? Tem efeito colateral? E a bula, não vem com bula? Porque se eu já tiver colesterol baixo, esse potinho pode acabar com a minha raça. Olha, vou te contar: a minha tia avó morreu aos 97 tomando vinho e comendo queijo todos os dias. E no velório a velhinha estava com um leve sorrisinho no canto do rosto. Quem é capaz de ser feliz com uma geladeira cheia de Fitoesteróis? Eu não. Treco horrível. Como se não bastasse o nome estranho, o gosto é mais ou menos o equivalente a lamber um sino. Depois de tomar um golinho, tive que correr pra cozinha e comer um monte de pão para tirar o gosto estranho que ficou grudado na língua. Tive a impressão que os fitoesteróis estavam todos rindo de mim. Fiquei puta da vida. Passei por tanto estresse, que é capaz até que tenha desenvolvido até alguma doença cardíaca por causa desta porcaria. Então no final das contas, o iogurte me fez mais mal do que bem.

Mesa para um

Em um domingo qualquer resolvi almoçar à beira da praia. Pedi uma mesa bem perto da janela e enquanto aguardava meu pedido, fiquei olhando o mar. Depois de alguns segundos de onda-espuma-onda, acabei me entediando. Sem a companhia de meu jornal sempre tão cheio de assunto, comecei a caçar algo a minha volta. Acabei reparando na senhora da mesa ao lado. Uns cinquenta e cinco anos, roupa elegante, cabelos alinhados, nem bonita, nem feia. Fisionomia simpatica. Chegou sozinha e sentou-se a mesa. Os garcons esperando a chegada do marido que devia estar estacionando o carro, demoraram a atendê-la. Quinze minutos depois sem que ninguém entrasse pela porta do restaurante, o garcon bem gordo e baixinho ainda tentou salva-la da solidão: depositou dois cardapios em cima da mesa. Educada, a senhora devolveu um deles: “sou so eu, obrigada”. Com enorme rapidez o garcon tratou de tirar o outro prato, talvez para que a ausência de uma companhia não se tornasse insuportavel. Mas ela nao parecia se importar com isso. Notei que por estarmos sozinhos, cada um em sua mesinha, eramos muito mais bem atendidos do que os dois casais do restaurante. Talvez na cabeça dos garçons, eles tinham uns aos outros, enquanto nos não tinhamos ninguém. A toda hora um gravatinha borboleta solicito perguntava primeiro para ela e em seguida para mim, se era preciso mais alguma coisa. Notei que entre um beijo e outro algum casal sorria para ela um sorriso caridoso: deve ser uma chata, nunca casou, deve ter bafo, pensavam no fundo. Mas a verdade é que uma mulher comendo sozinha sempre causa uma certa comoção. Sempre achei que pessoas almoçando sozinhas sofrem preconceito. Teria ela sido trocada por uma mulher mais jovem? Foi abandonada pelos filhos e por isso almoça sozinha em pleno domingo? Eram estas as perguntas que rondavam a cabeça de todos, inclusive dos garçons, que para preencher a provavel carencia afetiva da mulher, enchiam compulsivamente sua cestinha de pão. Com um leve sorriso no rosto, ela saboreava seu prato comia entre um e outro gole de vinho. Vinho, um forte indicio de acolismo, é isso, ela foi abandonada e esta curando as magoas. Mas ela, apesar dos olhares de compaixão alheia, parecia muito bem obrigada. As pessoas que se dirigiam à saida do restaurante, passavam pela minha colega de solidao mais lentamente, como quem passa por um acidente de trânsito. Poderia ter sido comigo, pensavam. A solidao é isso, quase um tragédia. Morremos de medo dela. E tentamos nos livrar deste terrivel destino a qualquer custo, mesmo que para isso tenhamos que escolher uma companhia qualquer, um qualquer um. Nem que para isso tenha que se pagar o preço de um jantar a dois inteiro em silêncio. Os famosos mortos que jantam, como diria meu amigo Zeca. Pensei naquele ditado: antes so do que mal acompanhado. Mas porque a solidão tem que ser apenas solução para a ma companhia? E se quisermos estar sos, mesmo com a opção de alguém legal ao nosso lado? As vezes adoro ler o jornal enquanto almoço. Obvio que estar so a vida toda deve ser uma tristeza, mas o contrario também é um pouco deprimente. Em meio aos meus devaneios, recebo um guardanapo de papel dobrado em cima da mesa. Vejo que ela tem uma aliança no dedo. Depois de depositar o misterioso bilhete, ela se despede dos garcons e sai do restaurante em direção a orla da praia. Abro o bilhete e leio: somos tão mais bem servidos quando estamos sos, não é mesmo? Bom apetite. Olho para for a da janela e vejo-a caminhando tranquilamente, talvez em direçao a casa cheia de gente a esperando, talvez para um apartamento vazio recordar as lembranças de um casamento falido. Nao importa, quando você é uma boa companhia para si mesmo, a refeição sempre cai bem.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Eu juro, aconteceu de verdade

-Alô?
-(com voz de apresentador de auditório) Boa tarde, meu nome é Rubens, em que posso ajudáá-laaaaa?
-(imito a voz de apresentador de tevê) Fala Rubens, como é que tá o pessoal aí de casaaaaaa?
-Muito bem, obrigadaaaaa.
-Rubens, meu nome é Ana Reber, queria trocar a senha do meu cartão de créditoooooo.
-Muito bem, então vamos às perguntas, valendo três pontos: qual é o nome do seu paiii?
-Raimundo Ferreira da Costa.
-Resposta corretaaaa. Agora valendo dez pontoooos, qual o nome da sua mãe?
-Marina de Oliveira Costa.
-Muito bem. Atenção para a última perguntaaaaa, qual a sua data de nascimentoooo?
-21 de agosto de 1982.
-Muito beeeeeeeeeem. E qual a senha novaaaaa?
-5478.
-Parabéns, sua senha está registradaaaaaaa.
-Maravilha Rubens, obrigado. Agora posso te fazer uma perguntinha? Qual o motivo de tanta alegria?
-Os seus problemas me fazem esquecer os meus!

Além do melhor telemarketing que eu já conheci na vida, Rubens ainda é filosofo.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Mamãe quero ser escritora

O que faz de mim uma escritora? Não uso óculos, não fumo e não bebo vinho enquanto digito frenéticamente o meu teclado. Não tenho costume de escrever de madrugada. Não acordo no meio da noite com uma idéia e me jogo no Word até o amanhecer e ah, não tenho a barba por fazer. A verdade é que nunca acreditei nos clichês das profissões. Não é o cachecol o que vai tornar um ator mais ator do que outros, nem a cara de intelectual vai fazer de mim uma escritora. Se fosse assim, seria uma maravilha. Para escrever um belo romance, bastaria eu colocar os óculos que eu não uso e em seguida criar um futuro best seller, prêmio Jabuti e por que não Pullitzer? Mas não, não senhora. Nada além das minhas próprias palavras podem determinar quem eu sou. Neste caso o espelho não me serve de nada. Para ter uma dia essa resposta, só mesmo olhando com atenção, sem óculos nem lente para o fundo da alma.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Mamãe quero ser Zeca Pagodinho.

Já pensou? Ser essa criatura maravilhosa? Passar a vida numa mesa de bar, bebendo cerveja, compondo um sambinha preguiçoso e assim, como quem não quer nada, virar sem querer garoto propaganda de cerveja e ganhar milhões? Ai mamãe...

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Segunda-feira

Tem dias que a gente não sabe muito bem por onde começar. O dia nasce, corre, mas você não acompanha. Num dia como esse, meio preguiçoso, eu tenho vontade de sentar numa cadeira de balanço e ficar só acompanhando a dança coreografada dos ponteiros. Está frio, nada muito bom aconteceu, mas nada muito ruim também. Por enquanto zero a zero no placar das grandes emoções. Olho para fora da janela e penso que para pelo menos uma pessoa nesse mundo, o meu dia preguiçoso foi o dia mais feliz de sua vida. Ao final da tarde, ela se casa com o amigo de infância que no fundo sempre foi apaixonada. Para outro alguém em algum canto, este foi um dia cinza, o mais triste do ano. Um irmão que se foi, um aperto no coração e um xis no calendário, que vai deixar para sempre marcado o dia 29 de junho. Eu fico imaginando o tanto de histórias, livros, filmes que daria para fazer com apenas 24 horas. Drama, comédia, suspense com um desaparecimento, cinema mudo, aventura em alguma cordilheira, no Rio milhares do gênero policial. E enquanto isso tudo rola lá fora, eu estou aqui sentada, com vontade de ficar só assistindo o dia dos outros acontecer.

terça-feira, 23 de junho de 2009

sexta-feira, 19 de junho de 2009

A vida como ela é. Parte 2

Se tem uma coisa que eu tenho verdadeiro pânico, são as praças de alimentação de shopping. É muita comida, o barulho de um estádio de futebol, só que sem a vantagem das cadeiras numeradas. Meticulosamente planejadas, nas praças de alimentação querem que você coma o mais rápido possível para poder voltar às compras imediatamente. O tempo de um café que você teóricamente teria direito, pode significar uma blusinha a menos vendida no final do mês. Maquiavélico. Agora de uma praça de alimentação em específico eu gosto. A do Shopping Iguatemi. Porque é mais chique? Béééé, nada disso. Adoro ver aquele monte de peruas, de bolsinha Chanel segurando bandeijinhas de plástico. É um verdadeiro deleite para mim ver as moças equilibrando suas bandeijas com a destreza de quem nunca na vida fez a própria cama. Me sinto vingada ao ver estas mulheres que dominam as duas pistas da avenida com seus Land Rovers, condicionadas a disputar com o resto do mundo, por uma mesinha apertada para almoçar. De que adianta milhares de reais ou até mesmo dólares gastos em roupas de grife, se no final das contas vem a bandeijinha de plástico fabricado na China estragar o seu look? Não tem Sartorialist que aguente. Finalmente algo de bom nas tão malfaladas praças de alimentação. Um programa de índio que eu recomendo. Você pode até sair um pouco estufado da comida fast, mas pelo menos vai dar umas boas risadas.

A vida como ela é.

Ia mudar de casa. Enquanto andava pelo imóvel vazio, planejava a mudança. Olhando para as paredes pensou que a pintura seria mesmo necessária. Se imaginou ao lado do amado reformando o apartamento. Os dois de macacao jeans, ao som de um bom jazz. Como num romance água com açúcar, eles brincariam de pega-pega correndo pelo apartamento, falariam bobagens, dançariam agarradinhos e depois de pincelar o nariz um do outro com tinta branca, iriam para o quarto dar umas pinceladas em cima do colchão ainda com o plástico em volta. Planejou este momento e aquele começo de uma nova vida. O que veio porém não foi aquilo que havia imaginado. O amado acabou tendo que viajar e quem se incumbiu de pintar o apartamento foi um pintor profissional. Ouviu a campainha tocar, foi até a porta atender. Ao invés do príncipe encantado com macacão jeans un pouco apertado salientando a bundinha perfeita, se deparou com um homem gordo, de chinelo, com o elástico da bermuda esticadíssimo, quase gritando pedindo socorro. 110 quilos de massa corrida, era o que ele era. Enquanto falava sobre o material que precisaria para fazer a pintura, saíam perdigotos de sua boca mole. Arrastando o chinelo, o homem tirou um pequeno radinho da mochila e ligou um axé. Ela rapidamente pegou a bolsa e tratou de sair do apartamento. Qualquer coisa, até mesmo a loja de materiais de construção, era melhor do que aquilo. Nelson Rodrigues tem toda razão, a vida como ela é.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Sou Frida



Frida Kahlo. Como todas as pessoas de muita personalidade, há quem ame, há quem odeie. Eu sou do primeiro time. Porque os quadros dela me tocam, porque o jeito dela se vestir me dá a impressão de que ela um dia gritou para o mundo "eu existo". Porque ela foi visceral, orgulhosa da sua latinidade, polêmica, tudo, tudo, tudo, menos comum. Ah, como dá medo de ser comum e um dia ser esquecido, não dá?

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Auto-estima é tudo

Um dia, a rosa encontrou a couve-flor e disse:
- Que petulância te chamarem de Flor!
Veja sua pele: é áspera e rude, enquanto a minha é lisa e sedosa.
Veja seu cheiro: é desagradável e repulsivo, enquanto o meu perfume é
sensual e envolvente...
Veja seu corpo: é grosseiro e feio, enquanto o meu é delicado e elegante.
Eu, sim, sou uma flor!

E a couve-flor respondeu:

HELLOOOOOOOU........!!!
QUERIDAAAAAAA........!!!
ACORDAAAAAAA.........!!!

De quê adianta ser tão linda, se ninguém te come ? Hã?

segunda-feira, 25 de maio de 2009

A vida como ela é

Ia mudar de casa. Enquanto andava pelo imóvel vazio, planejava a mudança. Olhando para as paredes pensou que a pintura seria mesmo necessária. Se imaginou ao lado do amado pintando o apartamento. Os dois de macacao jeans, ao som de um bom jazz. Como num romance água com açúcar, eles brincariam de pega-pega correndo pelo apartamento, falariam bobagens, dançariam agarradinhos e depois de pincelar o nariz um do outro com tinta branca, iriam para o quarto dar umas pinceladas em cima do colchão ainda com o plástico em volta. Planejou este momento e aquele começo de uma nova vida. O que veio porém não foi aquilo que havia imaginado. O amado acabou tendo que viajar e quem se incumbiu de pintar o apartamento foi um pintor profissional. Ouviu a campainha tocar, foi até a porta atender. Ao invés do príncipe encantado com macacão jeans un pouco apertado salientando a bundinha perfeita, se deparou com um homem gordo, de chinelo, com o elástico da bermuda esticadíssimo, quase gritando pedindo socorro. 110 quilos de massa corrida, era o que ele era. Enquanto falava sobre o que precisaria para fazer a pintura, saíam perdigotos de sua boca mole. Arrastando o chinelo, o homem tirou um pequeno radinho da mochila e ligou um axé. Ela pegou a bolsa e saiu do apartamento correndo. Qualquer coisa, até a loja de materiais de construção era melhor do que aquilo. Nelson Rodrigues em toda sua razão, a vida como ela é.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Carta ao meu pai

Hoje meu pai faz setenta anos. Pensando no que comprar de presente, juntei minhas maiores posses, exatamente cinco dedos em cada mao e escrevi esta carta. Nao me julgue muquirana, você logo vai entender o porquê deste presente singelo. Durante toda minha vida procurei algo que fosse O presente. Mas nunca encontrei. Meu pai nunca ligou muito para essas coisas. As camisas polo, o cinto de couro, ou até mesmo uma cesta de queijos, presente que para um frances parece ser perfeito, sempre me fizeram sentir que nao era o suficiente. Nao era lacinho na embalagem ou coisa semelhante, que poderia declarar a minha admiraçao por ele. Nao porque seja meu pai. O simples fato de termos o mesmo sangue, por mais forte que isso possa parecer, nao seria justificativa à altura deste imenso amor que eu sinto. A verdade é que tenho a grande sorte na vida de me identifcar até o fundo da alma com este ser humano e amigo que também exerce a funçao de meu pai.

E como ele a exerce bem: me surpreende a toda hora com a sua maneira de ver a vida, me mostrando na maior parte do tempo que quem tem o pensamento antiquado sou eu. Me abre os olhos e me faz enxergar novos caminhos, quando eu, na minha arrogancia juvenil, acho que ja vivi tudo que tinha que viver. Coloca meus pés no chao, mas me da forças para chegar até o teto se for preciso. Como definir alguém que faz tanto por mim? Dizem que ser pai ou mae é uma profissao. Pois meu pai é realmente apaixonado pelo que faz. E é tao dedicado, que faz turno dobrado. Tudo que ele faz como pai, ele faz com grande maestria. Instintivamente. Quando eu nasci, ele nao se tornou pai, ele ja era pai.

Mindu, que é como eu costumo chama-lo, me ensinou que ser pai nao é ser heroi. Porque herois nao têm defeitos, nao tem fraquezas. Herois nao sao humanos como voce é pai. No olhar doce, no jeito devagar de caminhar, nas maos cheias de durepox dos consertos que você faz pelas janelas e portas deste mundo, as mesmas maos que quando voce fica preocupado se esfregam. Nos cigarros que acende um atras do outro, na mania que voce tem de tentar me convencer que nao traga a fumaça quando fuma. Na sua grandeza de dar um ombro de pai a um amigo meu cujo pai virou as costas em um momento dificil. Eu adoro quando você, com seu sotaque de quem recém chegou da França ha trinta anos, diz xurrurru, ao invés de jururu. Pois saiba que hoje estou longe de estar xurrurru. Estou bem feliz porque é o seu aniversario. Por estas e tantas outras coisas que nao caberiam em um livro, eu te amo. Amo tanto, que as vezes até doi. E venho aqui, declarar publicamente a minha admiraçao por voce. Pelo pai, amigo, homem culto, leitor voraz de jornal, viajante da jaqueta de couro amarela. Nao que a minha admiraçao seja grande segredo, acho que todo mundo sabe. Mas senti vontade de escrever para quem quisesse ler. Mas espero que o primeiro a acessar aqui seja você. Para que palavra por palavra fique marcada, com muito amor.
Nani.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Minha avo usa o skype e eu nao.

A discussao em si nao é nova, mas hoje tive vontade de falar sobre a internet. Tem tanta, mas tanta, tanta, tanta, tanta informaçao, que as vezes a gente até fica meio perdido. Fui procurar uns sites de decoraçao e achei trocentas coisas: bordados, dicas, pessoas que nao gastaram nada para fazer tudo, pessoas que gastaram tudo para nao fazer quase nada. O resultado é que eu teria que alugar o prédio inteiro, pra fazer tudo que eu achei de legal. A internet é assim, um pouco como aquele amigo seu, que tem mania de ficar despejando o proprio conhecimento e voce as vezes tem vontade de mandar ele calar a boca. A verdade é que muitas vezes eu ( nao sei voce) ao final do dia, tenho uma sensaçao de que eu deixei algo por fazer. Sao tantos blogues, sites, flickrs para ver que eu nao dou conta. Dai surgem os papos: voce viu o video da fulaninha que filmou o Ronaldo pelado? Nao. E aquele outro do cara engolindo uma garrafa pet? Também nao. E aquele da Maysa arrancando a peruca do Silvio Santos? Também nao. Jura????? E a pessoa que fala isso, olha para voce como seu pai olhava para o seu avo quando ele duvidava que o homem tivesse mesmo pisado na lua. Voce esta muuuuuuuito por fora. E os sites de relacionamentos entao? Voce olha para as fotos de viagens dos seus amigos e pensa: tenho que fazer essa viagem, olha que lugar legal fulaninho conhece e eu nao. Da uma certa frustraçao, porque ao mesmo tempo que voce descobre, na real essas descobertas nao sao so suas. Eh muita informaçao, muita coisa para ser ao mesmo tempo. Tem muitas coisas tecnologicas, muitas descobertas que eu sei que tornariam a minha vida mais facil, mas da uma preguiça...Vou melhorar um dia, eu prometo, serei uma pessoa mais "on". Assim que a minha avo voltar de Las Vegas, vou pedir pra ela me ensinar a usar o Skype.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Sonho


Eu vi a exposiçao da Grete Stern no museu Lasar Segall e adorei. Fugindo dos nazistas, ela foi para Buenos Aires e foi na época, uma das primeiras fotografas e designers graficas da historia. A maior parte dos trabalhos dela giram em torno do universo surrealista. O que na verdade, tem sido para mim a melhor forma de retratar essa vida. Surreal mesmo.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Frase do dia

Dar a cara a tapa faz bem para a saude, deixa as bochechas bem rosadinhas.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Cotidianices

Estava sentado à mesa jantando tranquilamente com amigos, quando foi acometido por uma crise nervosa. Veio assim de supetao: começou tremendo e logo em seguida se pôs a gritar. Seu trimilique desalinhou os talheres em cima da mesa e seus gritos num crescendo chamavam cada vez mais a atençao das mesas vizinhas. A conversa do grupo de amigos cessou e imobilizados, todos prestavam atençao na opera histérica que ele proporcionava. Na ausência de socorro, Seu Lular continuou gritando numa súplica por atençao. Garçons olhavam, o cozinheiro olhava, até o gato do restaurante parecia incomodado com o barulho. Quando finalmente a vergonha na cara moveu as maos do dono e o fez atender, foi possivel ouvir alguém gritando do outro lado da linha: oi, sabe a previsao do tempo pra amanha?


Um oferecimento: ouvidos. Porque a gente nao é pinico.




E na proxima postagem: Eu berro no celular em lugares publicos. E daí?

Frase do dia

"O fim do mês me preocupa mais que o fim do mundo. "

Ai que frase boa! By Claudio Arriagada, grande amigo e filsofo nas horas vagas.

Tudo certo como dois e dois sao nove

A vida é assim: um belo dia voce acorda, sente que esta de saco cheio do trabalho, escova os dentes, toma um banho, lembra que tem que arrumar aquele vazamento do banheiro e enquanto se arruma para sair, pensa com bastante preocupaçao na samambaia, que anda meio murcha ultimamente. Pre-ci-so dar um jeito nisso urgente, antes que ela morra, voce pensa enquanto calça o sapato. E quando voce sai de casa, um onibus que ultrapassou o farol vermelho, um chefe novo que resolve demitir todo mundo ou o resultado de um exame podem mudar para sempre a sua pequena rotina. Sai o chao e ficam apenas os pensamentos todos emaranhados, sem que voce saiba onde é o fim e o começo, mais ou menos como aquelas luzinhas da arvore de natal quando resolvem embolar. Entao, do dia para noite, suas prioridades mudam: foda-se a samambaia, que morra aquela planta idiota. Vazamento no banheiro? Aquilo é so um pinga pingazinho de nada. Impressionante como um fato que bagunça sua vida, pode mostrar a que ponto a gente acaba se apegando aos pequenos problemas quando esta tudo bem. Nao que a sua vida deva realmente ser uma imensa bagunça, mas na presença de algo muito maior, o pequeno problema acanhado, acaba pedindo desculpas por ter ocupado tanto espaço na sua cabeça. Se existe mesmo algo bom em ter a sua vida do dia para noite virada de pernas pro ar, é perceber o que era realmente importante e o que nao. Tudo pesa diferente. Pode me chamar de Poliana por enxergar um lado positivo no seu repentino caos, mas a verdade é quando da tudo errado, tudo que voce quer é voltar naquele tempo em que voce achava que a samambaia era o maior problema da sua vida. Quanta preocupaçao me da esta planta, meu Deus do céu, nao aguento mais. Devia ter comprado um cactus, eu sabia, eu sabiiiiiia.

terça-feira, 17 de março de 2009

Esquina

A prostituta estava sentada na esquina esperando sua clientela, quando teve a cabeça iluminada pelo farol de um carro que passava. Com a luz que ofuscava os olhos, veio uma ideia: vender coxinha enquanto fazia o ponto. Coxinha de frango. A ideia parecia boa: o tempo que ficava parada na esquina, ela aproveitaria para fazer um extra. Suas coxinhas, sem trocadilhos, eram realmente gostosas. Havia aprendido a receita com a avó no interior e trouxe dentro de um caderninho, quando veio para São Paulo. Pensou em cada detalhe: se tivesse que se ocupar de um cliente, as colegas poderiam ficar de olho na mercadoria até a sua volta. E se ninguém quiser me comer, pensou, levam pelo menos a coxinha pra casa. Calculou por cima um precinho razoável e ensaiou uma posição que ficasse sexy segurando a bandeja de quitutes. Poderia usar até um aventalzinho bem curto, uma coisa assim, meio fetiche. Enquanto imaginava seu sucesso e as notas de dinheiro entrando na carteira, ouviu o grito de um homem dentro de um carro: coxão! Era um sinal, só poderia ser um sinal. Agora sim, a vida ia melhorar.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Bicho não pensa

Outro dia dei de cara com uma lembrança longínqua: a época da faculdade. Não, eu não tenho oitenta anos, apesar dessas memórias me parecerem muito, mas muito distantes. Parada num farol, recebi `a minha janela a visita de três garotas com as caras pintadas, que gentilmente vieram me pedir dinheiro. O que senti nesse momento eu garanto a você não foi saudosismo, foi algo mais parecido com a náusea. Aquela cena era esdrúxula. Borradas e descabeladas, as tetéias pareciam mendigas de boutique. Disputando espaço com os meninos de rua, as garotas se atiravam na frente dos carros e soltavam com um ar de menina do comercial da Sukita: "Tchiiiiiia, dá um trocado?" Perdão, trocado não, que isso é coisa de menina de rua, não de família. "Tchhhiiiiiiia dá um real pra gentchi tomar uma cervejinha?". Não, respondi secamente. Vocês não tem vergonha na cara, de me pedir um trocado, pagando quase o meu salário inteiro na mensalidade da sua futura facúúúúúúúú? Vai tomar no shopping. Como se não bastasse privatizar as praias, dominar as ruas com seus manobristas, os ricos agora colocam seus filhos para disputar lugar com crianças carentes no farol? Fiquei com raiva e me perguntei se um dia eu fui assim, Joselita. Provavelmente. Mas uma coisa desse episódio me deixou bastante satisfeita: não me senti nem um pouco culpada em subir o vidro. Assim, na cara mesmo.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Melô do coração

Nesse meu espacinho eu falo sobre tudo que eu vejo por aí. Faço todas as minhas críticas, exercito a minha acidez e em último caso se não tiver mais opção, faço um elogiozinho singelo. Mas bem zinho mesmo, que é pra não limpar a minha reputação de reclamona. Meu problema é que ultimamente eu não vejo mais nada além de você. E como você me faz muito, muito feliz, não tenho vontade de criticar ninguém, de reclamar de nada. Eu acho tudo lindo, tá tudo ótimo e sei que as coisas vão ficar ainda melhores. Fui acometida por uma doença grave: o otimismo. E isso para uma crítica nata como eu, é um problema. Mas um problema tão delicioso, que eu não pretendo me livrar.
Cheguei à conclusão de que o amor de cego não tem nada. Pelo contrário, ele faz a gente enxergar o mundo muito, mas muito melhor.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

OAiéuó da moda


Falando em essencial e fútil, li essa frase num blog de moda. Gostei.

"O mais triste para uma vítima da moda é ser enterrado com uma roupa e saber que terá que usá-la para a eternidade."

http://colunas.gnt.com.br/euseitudodemoda/

Farofáfá

Viajando pela Bolívia, inventei essa nova expressão: farofa no deserto é ouro. Me explico: em um lugar onde falta tudo, até água, qualquer coisinha extra torna-se uma verdadeira relíquia. É aí que a gente vê que o nosso cotidiano é feito de muitas, muitas coisas. Pequenas, grandes, objetos e mais objetos. E só nos damos conta do valor de cada uma delas nessas horas. Viagens transformam muitos dos meus pertences em inutilidades e coisas que eu achava insignificantes em pequenos tesouros.



Oda a las cosas
de Pablo Neruda

Amo las cosas loca,
locamente.
Me gustan las tenazas,
las tijeras,
adoro las tazas,
las argollas,
las soperas,
sin hablar, por supuesto,
del sombrero.
Amo todas las cosas,
no sólo
las supremas,
sino
las
infinita-
mente
chicas,
el dedal,
las espuelas,
los platos,
los floreros.

Ay, alma mía,
hermoso
es el planeta,
lleno
de pipas
por la mano
conducidas
en el humo,
de llaves,
de saleros,
en fin,
todo
lo que se hizo
por la mano del hombre, toda cosa:
las curvas del zapato,
el tejido,
el nuevo nacimiento
del oro
sin la sangre,
los anteojos,
los clavos,
las escobas,
los relojes, las brújulas,
las monedas, la suave
suavidad de las sillas.

Ay cuántas
cosas
puras
ha construido
el hombre:
de lana,
de madera,
de cristal,
de cordeles,
mesas
maravillosas,
navíos, escaleras.

Amo
todas las cosas,
no porque sean
ardientes
o fragantes,
sino porque
no sé,
porque
este océano es el tuyo,
es el mío:
los botones,
las ruedas,
los pequeños
tesoros
olvidados,
los abanicos en
cuyos plumajes
desvaneció el amor
sus azahares,
las copas, los cuchillos,
las tijeras,
todo tiene
en el mango, en el contorno,
la huella
de unos dedos,
de una remota mano
perdida
en lo más olvidado del olvido.

Yo voy por casas,
calles,
ascensores,
tocando cosas,
divisando objetos
que en secreto ambiciono:
uno porque repica,
otro porque
es tan suave
como la suavidad de una cadera,
otro por su color de gua profunda.
otro por su espesor de terciopelo.

Oh río
irrevocable
de las cosas,
no se dirá
que sólo
amé
lo que salta, sube, sobrevive, suspira.
No es verdad:
muchas cosas
me lo dijeron todo.
No sólo me tocaron
o las tocó mi mano,
sino que acompañaron
de tal modo
mi existencia
que conmigo existieron
y fueron para mí tan existentes
que vivieron conmigo media vida
y morirán conmigo media muerte.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Ilusão palavra




Numa viagem ao deserto me encontrei. Caminhando pelas dunas, vi minha vida passar como num filme. De repente tive uma iluminação e entendi tudo: precisava mudar de trabalho, ter mais qualidade de vida, passar menos tempo no computador, dar valor a coisas mais importantes como o ar, a terra, as estrelas. Sabia exatamente o que fazer e pra onde ir. De repente tudo ficou tão claro. Eu juro para você, tudo isso é tão verdadeiro quanto uma miragem. Adoraria que tivesse mesmo sido assim, mas não foi. Porque pensar que as soluções vão aparecer do nada é uma idéia bonita. Tão bonita quanto uma miragem onde você pula sedento em um laguinho e ao abrir os olhos descobre que está com a cabeça enfiada na areia. Ilusão, doce ilusão. A verdade é que a gente espera soluções mágicas pra tudo, ou quase tudo. Ao invés de fazer regime, a gente acredita no poder do diet shake. A gente prefere apostar na tele-sena do que pensar em como mudar de vida. O ser humano é assim, eu sou assim, provávelmente você é assim. O deserto não me fez ter estalos e visões. Ele só me deu o que ele poderia dar: paisagens lindas, que eu nunca mais vou esquecer. Deixou de souvenir alguns grãos de areia no meu ouvido e esvaziou a minha cabeça. Mas, pensando bem, será que a mágica não é essa? Quem sabe agora com mais espaço, não entra algo novo de verdade nela?