sexta-feira, 15 de maio de 2009

Carta ao meu pai

Hoje meu pai faz setenta anos. Pensando no que comprar de presente, juntei minhas maiores posses, exatamente cinco dedos em cada mao e escrevi esta carta. Nao me julgue muquirana, você logo vai entender o porquê deste presente singelo. Durante toda minha vida procurei algo que fosse O presente. Mas nunca encontrei. Meu pai nunca ligou muito para essas coisas. As camisas polo, o cinto de couro, ou até mesmo uma cesta de queijos, presente que para um frances parece ser perfeito, sempre me fizeram sentir que nao era o suficiente. Nao era lacinho na embalagem ou coisa semelhante, que poderia declarar a minha admiraçao por ele. Nao porque seja meu pai. O simples fato de termos o mesmo sangue, por mais forte que isso possa parecer, nao seria justificativa à altura deste imenso amor que eu sinto. A verdade é que tenho a grande sorte na vida de me identifcar até o fundo da alma com este ser humano e amigo que também exerce a funçao de meu pai.

E como ele a exerce bem: me surpreende a toda hora com a sua maneira de ver a vida, me mostrando na maior parte do tempo que quem tem o pensamento antiquado sou eu. Me abre os olhos e me faz enxergar novos caminhos, quando eu, na minha arrogancia juvenil, acho que ja vivi tudo que tinha que viver. Coloca meus pés no chao, mas me da forças para chegar até o teto se for preciso. Como definir alguém que faz tanto por mim? Dizem que ser pai ou mae é uma profissao. Pois meu pai é realmente apaixonado pelo que faz. E é tao dedicado, que faz turno dobrado. Tudo que ele faz como pai, ele faz com grande maestria. Instintivamente. Quando eu nasci, ele nao se tornou pai, ele ja era pai.

Mindu, que é como eu costumo chama-lo, me ensinou que ser pai nao é ser heroi. Porque herois nao têm defeitos, nao tem fraquezas. Herois nao sao humanos como voce é pai. No olhar doce, no jeito devagar de caminhar, nas maos cheias de durepox dos consertos que você faz pelas janelas e portas deste mundo, as mesmas maos que quando voce fica preocupado se esfregam. Nos cigarros que acende um atras do outro, na mania que voce tem de tentar me convencer que nao traga a fumaça quando fuma. Na sua grandeza de dar um ombro de pai a um amigo meu cujo pai virou as costas em um momento dificil. Eu adoro quando você, com seu sotaque de quem recém chegou da França ha trinta anos, diz xurrurru, ao invés de jururu. Pois saiba que hoje estou longe de estar xurrurru. Estou bem feliz porque é o seu aniversario. Por estas e tantas outras coisas que nao caberiam em um livro, eu te amo. Amo tanto, que as vezes até doi. E venho aqui, declarar publicamente a minha admiraçao por voce. Pelo pai, amigo, homem culto, leitor voraz de jornal, viajante da jaqueta de couro amarela. Nao que a minha admiraçao seja grande segredo, acho que todo mundo sabe. Mas senti vontade de escrever para quem quisesse ler. Mas espero que o primeiro a acessar aqui seja você. Para que palavra por palavra fique marcada, com muito amor.
Nani.

3 comentários:

Daniela Arrais disse...

que lindo! =~

Unknown disse...

arrepiei

Angela disse...

lindo demais,ana. Mindu deve estar muuuito feliz com o presente.