sexta-feira, 19 de junho de 2009

A vida como ela é.

Ia mudar de casa. Enquanto andava pelo imóvel vazio, planejava a mudança. Olhando para as paredes pensou que a pintura seria mesmo necessária. Se imaginou ao lado do amado reformando o apartamento. Os dois de macacao jeans, ao som de um bom jazz. Como num romance água com açúcar, eles brincariam de pega-pega correndo pelo apartamento, falariam bobagens, dançariam agarradinhos e depois de pincelar o nariz um do outro com tinta branca, iriam para o quarto dar umas pinceladas em cima do colchão ainda com o plástico em volta. Planejou este momento e aquele começo de uma nova vida. O que veio porém não foi aquilo que havia imaginado. O amado acabou tendo que viajar e quem se incumbiu de pintar o apartamento foi um pintor profissional. Ouviu a campainha tocar, foi até a porta atender. Ao invés do príncipe encantado com macacão jeans un pouco apertado salientando a bundinha perfeita, se deparou com um homem gordo, de chinelo, com o elástico da bermuda esticadíssimo, quase gritando pedindo socorro. 110 quilos de massa corrida, era o que ele era. Enquanto falava sobre o material que precisaria para fazer a pintura, saíam perdigotos de sua boca mole. Arrastando o chinelo, o homem tirou um pequeno radinho da mochila e ligou um axé. Ela rapidamente pegou a bolsa e tratou de sair do apartamento. Qualquer coisa, até mesmo a loja de materiais de construção, era melhor do que aquilo. Nelson Rodrigues tem toda razão, a vida como ela é.

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