quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Mesa para um

Em um domingo qualquer resolvi almoçar à beira da praia. Pedi uma mesa bem perto da janela e enquanto aguardava meu pedido, fiquei olhando o mar. Depois de alguns segundos de onda-espuma-onda, acabei me entediando. Sem a companhia de meu jornal sempre tão cheio de assunto, comecei a caçar algo a minha volta. Acabei reparando na senhora da mesa ao lado. Uns cinquenta e cinco anos, roupa elegante, cabelos alinhados, nem bonita, nem feia. Fisionomia simpatica. Chegou sozinha e sentou-se a mesa. Os garcons esperando a chegada do marido que devia estar estacionando o carro, demoraram a atendê-la. Quinze minutos depois sem que ninguém entrasse pela porta do restaurante, o garcon bem gordo e baixinho ainda tentou salva-la da solidão: depositou dois cardapios em cima da mesa. Educada, a senhora devolveu um deles: “sou so eu, obrigada”. Com enorme rapidez o garcon tratou de tirar o outro prato, talvez para que a ausência de uma companhia não se tornasse insuportavel. Mas ela nao parecia se importar com isso. Notei que por estarmos sozinhos, cada um em sua mesinha, eramos muito mais bem atendidos do que os dois casais do restaurante. Talvez na cabeça dos garçons, eles tinham uns aos outros, enquanto nos não tinhamos ninguém. A toda hora um gravatinha borboleta solicito perguntava primeiro para ela e em seguida para mim, se era preciso mais alguma coisa. Notei que entre um beijo e outro algum casal sorria para ela um sorriso caridoso: deve ser uma chata, nunca casou, deve ter bafo, pensavam no fundo. Mas a verdade é que uma mulher comendo sozinha sempre causa uma certa comoção. Sempre achei que pessoas almoçando sozinhas sofrem preconceito. Teria ela sido trocada por uma mulher mais jovem? Foi abandonada pelos filhos e por isso almoça sozinha em pleno domingo? Eram estas as perguntas que rondavam a cabeça de todos, inclusive dos garçons, que para preencher a provavel carencia afetiva da mulher, enchiam compulsivamente sua cestinha de pão. Com um leve sorriso no rosto, ela saboreava seu prato comia entre um e outro gole de vinho. Vinho, um forte indicio de acolismo, é isso, ela foi abandonada e esta curando as magoas. Mas ela, apesar dos olhares de compaixão alheia, parecia muito bem obrigada. As pessoas que se dirigiam à saida do restaurante, passavam pela minha colega de solidao mais lentamente, como quem passa por um acidente de trânsito. Poderia ter sido comigo, pensavam. A solidao é isso, quase um tragédia. Morremos de medo dela. E tentamos nos livrar deste terrivel destino a qualquer custo, mesmo que para isso tenhamos que escolher uma companhia qualquer, um qualquer um. Nem que para isso tenha que se pagar o preço de um jantar a dois inteiro em silêncio. Os famosos mortos que jantam, como diria meu amigo Zeca. Pensei naquele ditado: antes so do que mal acompanhado. Mas porque a solidão tem que ser apenas solução para a ma companhia? E se quisermos estar sos, mesmo com a opção de alguém legal ao nosso lado? As vezes adoro ler o jornal enquanto almoço. Obvio que estar so a vida toda deve ser uma tristeza, mas o contrario também é um pouco deprimente. Em meio aos meus devaneios, recebo um guardanapo de papel dobrado em cima da mesa. Vejo que ela tem uma aliança no dedo. Depois de depositar o misterioso bilhete, ela se despede dos garcons e sai do restaurante em direção a orla da praia. Abro o bilhete e leio: somos tão mais bem servidos quando estamos sos, não é mesmo? Bom apetite. Olho para for a da janela e vejo-a caminhando tranquilamente, talvez em direçao a casa cheia de gente a esperando, talvez para um apartamento vazio recordar as lembranças de um casamento falido. Nao importa, quando você é uma boa companhia para si mesmo, a refeição sempre cai bem.

Um comentário:

Lion disse...

Bom! Interessante o texto.
Obrigado pela companhia que essas letras me fizeram agora.