sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Então é natal

Na ânsia de aumentar as vendas de panetones, os comerciantes do mundo todo fizeram uma reunião e decidiram antecipar o natal. Mal sabiam estes homens de terno da Columbo e crachá no peito que essa inocente iniciativa, mudaria para sempre os rumos da sociedade. No primeiro ano ninguém estranhou ao ver as caixas de panetone empilhadas no supermercado. Era primeiro de dezembro. Como o aquecimento global avança o nível do mar, a presença dos panetones antecipava o natal no calendário. Enquanto caixas e caixas se empilhavam nas prateleiras, cidades automaticamente se enchiam de luzinhas, guirlandas e bonecos de papai noel com a expressividade do Tarsício Meira. Como uma peste de gafanhotos, os panetones avançavam a cada ano que passava. Final de novembro, outubro, setembro, julho. Até que um dia em plena Páscoa, as pessoas começaram a pendurar suas guirlandas na porta de casa. O caos no calendário estava instalado. Ao fazer a fila para comprimentar o Papai Noel, crianças encontravam o Coelho da Páscoa sentado no seu colo. Cansados de disputar os comerciais do horário nobre, os dois haviam feito um acordo: dividiriam os lucros, o espaço e a atenção de todos. Uma relação de cumplicidade que com o tempo foi se intensificando, até a gerar alguns comentários maldosos da mídia. Na bagunça das datas comemorativas, espertos enxergaram oportunidades de negócios: surgiam as gurilandas de chocolate, ovos de páscoa com presente dentro. E as pessoas na vontade que as férias de natal chegassem logo, supriam a ansiedade se encheando de chocolate. Donos de academias de ginástica eram os novos-ricos. Para depressão e motivo pelo qual se suicidou o Coelho da páscoa, a fúria do panetone avançou ainda mais e assim o natal foi parar no carnaval. Samba enredos sobre o nascimento de jesus, reis magos desfilando na apoteose. Jãozinho trinta levantou as mãos aos céus e agradeceu. Já não aguentava mais fazer fantasias de índio e Pedro Alvares Cabral.