terça-feira, 23 de novembro de 2010

A felicidade

Um dia desses estava sem vontade de escrever e pensei: a culpa é toda da felicidade. Estava em um daqueles raros momentos tranquilos, com sol brilhando lá fora, contemplando sem pensar. Só que depois de dois minutos, senti falta de um pouco de conflito. Quando estou em dúvida, sofro, me questiono, é que sinto a necessidade de escrever, para dividir. As dores de amor, as dúvidas existencias, os problemas são a fonte de quase todas as letras, esculturas, dos filmes.

O que seria da história de Romeu e Julieta se as famílias se adorassem e os dois se casassem e vivessem felizes para sempre? E se Woody Allen fosse um cara bem resolvido, sem neuras, feliz e praticante assíduo de yoga? A felicidade, caro leitor, não gera assunto. Ela é em alguns casos a última página do livro, o último frame de um filme. O que move as histórias e o mundo, são os conflitos, que fazem com que as personagens saiam transformadas ao final de uma jornada. Claro que os momentos felizes, como esse que contei são importantes, mas tenho aprendido a entender que os conflitos nos ensinam, fazem sofrer, sentir, pensar, virar o Darth Vader de uma vez ou decidir ligar o sabre de luz e sair pelo mundo lutando contra o que nos faz mal.

O que defendo aqui, não é a apologia ao sofrimento, muito pelo contrário. Todos, inclusive quem digita essas linhas, queremos ser felizes e buscamos isso a cada dia. O fato é que ser feliz o tempo inteiro não é humano, não é real. Todos temos medos, angústias e maravilhosas imperfeições. Vejo um bocado de gente lutando para mostrar ao mundo o quanto é feliz o tempo inteiro, maquiando os problemas sem olhar para eles, vivendo uma felicidade acrílica e histérica. E aí que tenho vontade de repetir: sem conflitos, não existe história. Sem seus demônios, seus medos, suas preocupações você provavelmente não sairia do lugar. Porque sem conflitos, provávelmente não existiriam nem mesmo os versos tão perfeitos do poeta Vinícius:

A felicidade é como a pluma
Que o vento vai levando pelo ar
Voa tão leve
Mas tem a vida breve
Precisa que haja vento sem parar

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Afonso de Freitas

Uma rua. Onde a chuva desce como rios de lágrimas que lavam as amarguras e a dureza do asfalto.
Uma rua. Onde as distâncias apesar de curtas levam anos para serem percorridas.
Uma rua. Que como um rio de águas turbulentas separa duas margens com uma força intransponível.
Uma rua. Que não se sabe onde começou nem muito menos para onde vai.
Apenas uma rua. E ainda assim, tão complicada.