segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Bicho não pensa

Outro dia dei de cara com uma lembrança longínqua: a época da faculdade. Não, eu não tenho oitenta anos, apesar dessas memórias me parecerem muito, mas muito distantes. Parada num farol, recebi `a minha janela a visita de três garotas com as caras pintadas, que gentilmente vieram me pedir dinheiro. O que senti nesse momento eu garanto a você não foi saudosismo, foi algo mais parecido com a náusea. Aquela cena era esdrúxula. Borradas e descabeladas, as tetéias pareciam mendigas de boutique. Disputando espaço com os meninos de rua, as garotas se atiravam na frente dos carros e soltavam com um ar de menina do comercial da Sukita: "Tchiiiiiia, dá um trocado?" Perdão, trocado não, que isso é coisa de menina de rua, não de família. "Tchhhiiiiiiia dá um real pra gentchi tomar uma cervejinha?". Não, respondi secamente. Vocês não tem vergonha na cara, de me pedir um trocado, pagando quase o meu salário inteiro na mensalidade da sua futura facúúúúúúúú? Vai tomar no shopping. Como se não bastasse privatizar as praias, dominar as ruas com seus manobristas, os ricos agora colocam seus filhos para disputar lugar com crianças carentes no farol? Fiquei com raiva e me perguntei se um dia eu fui assim, Joselita. Provavelmente. Mas uma coisa desse episódio me deixou bastante satisfeita: não me senti nem um pouco culpada em subir o vidro. Assim, na cara mesmo.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Melô do coração

Nesse meu espacinho eu falo sobre tudo que eu vejo por aí. Faço todas as minhas críticas, exercito a minha acidez e em último caso se não tiver mais opção, faço um elogiozinho singelo. Mas bem zinho mesmo, que é pra não limpar a minha reputação de reclamona. Meu problema é que ultimamente eu não vejo mais nada além de você. E como você me faz muito, muito feliz, não tenho vontade de criticar ninguém, de reclamar de nada. Eu acho tudo lindo, tá tudo ótimo e sei que as coisas vão ficar ainda melhores. Fui acometida por uma doença grave: o otimismo. E isso para uma crítica nata como eu, é um problema. Mas um problema tão delicioso, que eu não pretendo me livrar.
Cheguei à conclusão de que o amor de cego não tem nada. Pelo contrário, ele faz a gente enxergar o mundo muito, mas muito melhor.