sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Alergias do natal

Quando chega esta época do ano, as obrigações se acumulam na mesma velocidade que as luzinhas pisca pisca nas varandas ( me chame de amarga, mas eu acho isso um desperdício de energia e uma ofensa ao aquecimento global, mas prosseguindo) É festa para cá, amigo secreto para lá, reunião de despedida, festa da firrrrrma e tralalá. E eu fico aqui pensando como somos vulneráveis a um tempo, que simplesmente não existe. Me explico: se não fosse o calendário para nos ditar essas regras, não estaríamos nos reunindo, eu provávelmente não me sentiria tão cansada e 90% da população mundial não estaria comprando presentes como se estivesse estocando farinha na época da inflação. Conversando com um amigo que programava sua ida ao shopping, perguntei se ele não se sentia um pouco pressionado a comprar tantos presentes. Este me respondeu que não comprava por obrigação, comprava porque amava sua família e por isso presenteava os entes queridos. Nova regra da língua portuguesa: comprar e amar se fundiram em um verbo só. Agora eu me pergunto: se as pessoas são tão especiais, como é possível achar presentes à sua altura em uma única ida ao shopping? Se todo mundo compra presente especiais para todo mundo, isso não quer dizer que todo mundo é muito igual a todo mundo? O que me leva a pensar que tudo é feito de maneira impessoal, frígida e estranha: berumda qualquer pra fulaninho, blusinha básica pra mariazinha e por aí vai. E o que era ser um gesto que diz “ você é especial” ao meu ver acaba dizendo “você é qualquer um, qualquer presente, qualquer vale cd de qualquer cantor de sua preferência, porque de qualquer maneira, tô querendo é andar logo pra não pegar fila no estacionamento” Não que eu seja o Grinch e odeie o natal, não é isso. Mas a discussão do que o natal se tornou é válida, mesmo que ela seja mais velha do que o próprio menino Jesus. Que confraternização com povo da firma, o que? Eu já confraternizo com eles quase doze horas do meu santo dia. São por essas e outras que eu me sinto contagiada pelas alergias do natal. Embrulhada pra presente e entregue como um chester de bandeija a todas as obrigações, sem nenhuma chaminé para escapar. A minha única e verdadeira alegria desta época é a ceia, com a minha família sentadinha em volta da mesa, bebendo muito vinho. Porque é com eles que eu tenho vontade de confraternizar, para eles eu dedico pouco tempo da minha vida.
E por falar em família, vou aproveitar para mandar um recadinho: pai, mãe, não vou dar nada para vocês, justamente porque vocês são únicos, ok? Vou comprar quando o presente certo aparecer. Se ele aparecer. Chame de desculpa, eu chamo de sinceridade.

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