segunda-feira, 19 de março de 2012

Desconversa

- Alô?
- Oi.
- Tudo bem?
- Tudo, por que?
- Não, só para saber...
- O que exatamente você quer saber?
- Nada.
- Como nada?
- Do que você tá falando?
- Não sei, quem começou a falar foi você.
- Eu só disse alô.
- E eu disse oi.
- Pois é, não dava para dar um “oi tudo bem”?
- Mas foi você quem quis saber se estava tudo bem.
- Por que, não tá?
- Tá, por que?
- Não sei.
- Ah não sabe?
- Não e você?
- Não sei.
- Ah é?? Então tchau.
- Não, espera.
- Alô? Alô? Alô?

terça-feira, 6 de março de 2012

Começar, começando.

Escrever é tão solitário, que o simples fato de observar a vida alheia já me dá um certo alívio. Ok, tá tudo certo, fora dessa tela branca tem gente mergulhando em Fernando de Noronha, deitando na Paulista fazendo protesto, fotografando o próprio pé, na cama com os gatos. O problema é que esse alívio quase imediato, traz na sequência uma angústia danada. Porque mesmo com duas profissões, pouco tempo para escovar os dentes e ir ao banheiro, ainda caio na armadilha de achar que estou fazendo pouco. E tenho a impressão de que essa síndrome de Shiva, não acontece só comigo. Meu amigo dentista quer ser fotógrafo, o médico quer ser dj, o dj quer ser médico e se der tempo, nas horas vagas, campeão de esgrima. Parece ser o que somos já não basta mais. O que é maravilhoso por um lado, mas por outro, a provável causa da multiplicação das caixinhas de ansiolíticos. Fico pensando que se o Da Vinci vivesse na nossa época, estaria esculpindo, pintando, projetando, fazendo música, tudo igual. Mas ficaria pirado ao ver a página do Michelangelo ali, toda cheinha de novidade. Ou seja, de 500 anos para cá, o problema continua o mesmo, só que maior: a grama ( pelo menos no meu caso) dos 553 vizinhos. Por mais contraditório que isso possa parecer, olhar para os outros só deixa a gente ainda mais sozinhos. Então a solução é fechar a cortina, desligar o que não importa e continuar a fazer, fazendo.