terça-feira, 20 de julho de 2010

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Estrada

Quando eu era pequena, adorava viajar de noite, ficava vendo as estrelas no céu pelo vidro do carro. Mas tinha uma coisa que me dava muito, mas muito medo: com o escuro da noite, não dava para ver o que vinha pela frente e isso me dava uma angústia maior do que meu coração de sete anos era capaz de suportar. E se viesse um bicho no meio da estrada, uma curva mais fechada? Esse medo me fazia esquecer das estrelas e eu grudava atrás do banco do meu pai, como uma co-pilota silenciosa, que tentava enxergar adiante, me perguntando se ele sentia a mesma angústia que eu. É provável que sim. É difícil não saber o que nos espera lá na frente.E se eu estiver no caminho errado? E se eu não casar com o cara certo? E se aquele plano não for o melhor pra mim? E se, e se, e se? Muito tempo e uma carta de motorista depois, voltei para essa estrada agora no lugar do condutor e me lembrei desse sentimento. Apesar do pouco tempo guiando, liguei o som do carro e fui curtindo a chegada de cada curva, as linhas brancas aparecendo e desaparecendo no chão. Foi tão bom. Pensei que viver é mais ou menos assim, dirigir por uma estrada escura, sinuosa, cheia de curvas, sem a mínima idéia do que vem pela frente. Não dá para antecipar, tem que curtir o céu cheio de estrelas e continuar em frente. Talvez seja por isso mesmo que eu gosto tanto de viajar à noite. Mesmo que às vezes a angústia dos meus sete anos bata num cantinho do peito.