segunda-feira, 25 de maio de 2009

A vida como ela é

Ia mudar de casa. Enquanto andava pelo imóvel vazio, planejava a mudança. Olhando para as paredes pensou que a pintura seria mesmo necessária. Se imaginou ao lado do amado pintando o apartamento. Os dois de macacao jeans, ao som de um bom jazz. Como num romance água com açúcar, eles brincariam de pega-pega correndo pelo apartamento, falariam bobagens, dançariam agarradinhos e depois de pincelar o nariz um do outro com tinta branca, iriam para o quarto dar umas pinceladas em cima do colchão ainda com o plástico em volta. Planejou este momento e aquele começo de uma nova vida. O que veio porém não foi aquilo que havia imaginado. O amado acabou tendo que viajar e quem se incumbiu de pintar o apartamento foi um pintor profissional. Ouviu a campainha tocar, foi até a porta atender. Ao invés do príncipe encantado com macacão jeans un pouco apertado salientando a bundinha perfeita, se deparou com um homem gordo, de chinelo, com o elástico da bermuda esticadíssimo, quase gritando pedindo socorro. 110 quilos de massa corrida, era o que ele era. Enquanto falava sobre o que precisaria para fazer a pintura, saíam perdigotos de sua boca mole. Arrastando o chinelo, o homem tirou um pequeno radinho da mochila e ligou um axé. Ela pegou a bolsa e saiu do apartamento correndo. Qualquer coisa, até a loja de materiais de construção era melhor do que aquilo. Nelson Rodrigues em toda sua razão, a vida como ela é.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Carta ao meu pai

Hoje meu pai faz setenta anos. Pensando no que comprar de presente, juntei minhas maiores posses, exatamente cinco dedos em cada mao e escrevi esta carta. Nao me julgue muquirana, você logo vai entender o porquê deste presente singelo. Durante toda minha vida procurei algo que fosse O presente. Mas nunca encontrei. Meu pai nunca ligou muito para essas coisas. As camisas polo, o cinto de couro, ou até mesmo uma cesta de queijos, presente que para um frances parece ser perfeito, sempre me fizeram sentir que nao era o suficiente. Nao era lacinho na embalagem ou coisa semelhante, que poderia declarar a minha admiraçao por ele. Nao porque seja meu pai. O simples fato de termos o mesmo sangue, por mais forte que isso possa parecer, nao seria justificativa à altura deste imenso amor que eu sinto. A verdade é que tenho a grande sorte na vida de me identifcar até o fundo da alma com este ser humano e amigo que também exerce a funçao de meu pai.

E como ele a exerce bem: me surpreende a toda hora com a sua maneira de ver a vida, me mostrando na maior parte do tempo que quem tem o pensamento antiquado sou eu. Me abre os olhos e me faz enxergar novos caminhos, quando eu, na minha arrogancia juvenil, acho que ja vivi tudo que tinha que viver. Coloca meus pés no chao, mas me da forças para chegar até o teto se for preciso. Como definir alguém que faz tanto por mim? Dizem que ser pai ou mae é uma profissao. Pois meu pai é realmente apaixonado pelo que faz. E é tao dedicado, que faz turno dobrado. Tudo que ele faz como pai, ele faz com grande maestria. Instintivamente. Quando eu nasci, ele nao se tornou pai, ele ja era pai.

Mindu, que é como eu costumo chama-lo, me ensinou que ser pai nao é ser heroi. Porque herois nao têm defeitos, nao tem fraquezas. Herois nao sao humanos como voce é pai. No olhar doce, no jeito devagar de caminhar, nas maos cheias de durepox dos consertos que você faz pelas janelas e portas deste mundo, as mesmas maos que quando voce fica preocupado se esfregam. Nos cigarros que acende um atras do outro, na mania que voce tem de tentar me convencer que nao traga a fumaça quando fuma. Na sua grandeza de dar um ombro de pai a um amigo meu cujo pai virou as costas em um momento dificil. Eu adoro quando você, com seu sotaque de quem recém chegou da França ha trinta anos, diz xurrurru, ao invés de jururu. Pois saiba que hoje estou longe de estar xurrurru. Estou bem feliz porque é o seu aniversario. Por estas e tantas outras coisas que nao caberiam em um livro, eu te amo. Amo tanto, que as vezes até doi. E venho aqui, declarar publicamente a minha admiraçao por voce. Pelo pai, amigo, homem culto, leitor voraz de jornal, viajante da jaqueta de couro amarela. Nao que a minha admiraçao seja grande segredo, acho que todo mundo sabe. Mas senti vontade de escrever para quem quisesse ler. Mas espero que o primeiro a acessar aqui seja você. Para que palavra por palavra fique marcada, com muito amor.
Nani.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Minha avo usa o skype e eu nao.

A discussao em si nao é nova, mas hoje tive vontade de falar sobre a internet. Tem tanta, mas tanta, tanta, tanta, tanta informaçao, que as vezes a gente até fica meio perdido. Fui procurar uns sites de decoraçao e achei trocentas coisas: bordados, dicas, pessoas que nao gastaram nada para fazer tudo, pessoas que gastaram tudo para nao fazer quase nada. O resultado é que eu teria que alugar o prédio inteiro, pra fazer tudo que eu achei de legal. A internet é assim, um pouco como aquele amigo seu, que tem mania de ficar despejando o proprio conhecimento e voce as vezes tem vontade de mandar ele calar a boca. A verdade é que muitas vezes eu ( nao sei voce) ao final do dia, tenho uma sensaçao de que eu deixei algo por fazer. Sao tantos blogues, sites, flickrs para ver que eu nao dou conta. Dai surgem os papos: voce viu o video da fulaninha que filmou o Ronaldo pelado? Nao. E aquele outro do cara engolindo uma garrafa pet? Também nao. E aquele da Maysa arrancando a peruca do Silvio Santos? Também nao. Jura????? E a pessoa que fala isso, olha para voce como seu pai olhava para o seu avo quando ele duvidava que o homem tivesse mesmo pisado na lua. Voce esta muuuuuuuito por fora. E os sites de relacionamentos entao? Voce olha para as fotos de viagens dos seus amigos e pensa: tenho que fazer essa viagem, olha que lugar legal fulaninho conhece e eu nao. Da uma certa frustraçao, porque ao mesmo tempo que voce descobre, na real essas descobertas nao sao so suas. Eh muita informaçao, muita coisa para ser ao mesmo tempo. Tem muitas coisas tecnologicas, muitas descobertas que eu sei que tornariam a minha vida mais facil, mas da uma preguiça...Vou melhorar um dia, eu prometo, serei uma pessoa mais "on". Assim que a minha avo voltar de Las Vegas, vou pedir pra ela me ensinar a usar o Skype.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Sonho


Eu vi a exposiçao da Grete Stern no museu Lasar Segall e adorei. Fugindo dos nazistas, ela foi para Buenos Aires e foi na época, uma das primeiras fotografas e designers graficas da historia. A maior parte dos trabalhos dela giram em torno do universo surrealista. O que na verdade, tem sido para mim a melhor forma de retratar essa vida. Surreal mesmo.