quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Qual é a sua?

Essa pergunta já vinha rondando a minha cabeça há um certo tempo. Durante os últimos meses me perguntei o que realmente me dava prazer, o que eu queria para mim e no fundo no fundo, quem era aquela pessoa que me olhava fixamente dentro do espelho. Claro que não estou falando das coisas que todo mundo gosta. Tipo aquelas entrevistas com celebridades de QI 12. “ Adoro me divertir com os amigos”, afirma fulaninha sobrenome. Tá Heleninha Magalhães, mas e quem não gosta? Vai dizer o que? “ Adoro ficar em casa sexta à noite deprimindo sozinha?” Lógico que não. Não é disso que eu estou falando. Mas daquela coisa, aquela sabe? Aquilo que te faz sentir melhor, mais legal, que dá algum sentido pra sua vida. Não precisa ser a sua profissão, nem algo mirabolante, não precisa ser nenhuma ação voluntária no Congo, nada disso. Só aquilo… ( para os ninfos “ aquilo” seria aquilo mesmo), que faz o dia passar mais rapido e nao ser apenas doze horas em vao. Foi buscando tanto em mim, que acabei reparando mais nos outros. Ficava olhando o povo na rua. Qual seria a dele? A dela? De repente eu me identificaria com alguma daquelas pessoas e a dele ou dela poderia ser a minha também. Comecei obviamente a reparar nos mais próximos . A do meu pai por exemplo, é consertar coisas: a cerca do portão, o trilho da janela. São horas a fio debaixo do sol, unhas cheias de durepox, poeira nos óculos. Mas tudo isso vale a pena. Porque mesmo que ninguém repare, aquele nhec nhec não assombra mais os pensamentos dele no final do dia. Concertar as coisas, sentir que está tudo em ordem, faz meu pai feliz. Já pra minha tia, que operou o pé há um mês e está sem poder andar, a vida perdeu todo sentido. De que vale o céu azul, o ar, os pássaros cantando, se ela não pode ir no Hortifruti? Porque o grande prazer dela é comprar tudo fresquinho e ficar pensando na vida enquanto ela faz pratos maravilhosos na cozinha. Depois da primeira garfada, todo vazio vai embora. A vida faz sentido da esquerda para direita: 20 gramas de manteiga, acrescente os ovos, enquanto isso vá untando ( sempre achei essa palavra meio fanha) a forma. Já para minha avó Alice, o lance é remédio. A motivação dela é ver os lançamentos da farmácia: Norfloxacino, Podam e bulas, muitas bulas. Enquanto alguns lêem Nietsche, minha avó enxerga sentido na vida naquele pedacinho de papel. Isso faz dela uma hipocondríaca feliz. Daí eu fico pensando: a Lu canta, o Bruno atua, a Paula viaja, a Camila casa, a Fernanda fotografa. E eu? Eu escrevo, escrevo, escrevo buscando.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Alergias do natal

Quando chega esta época do ano, as obrigações se acumulam na mesma velocidade que as luzinhas pisca pisca nas varandas ( me chame de amarga, mas eu acho isso um desperdício de energia e uma ofensa ao aquecimento global, mas prosseguindo) É festa para cá, amigo secreto para lá, reunião de despedida, festa da firrrrrma e tralalá. E eu fico aqui pensando como somos vulneráveis a um tempo, que simplesmente não existe. Me explico: se não fosse o calendário para nos ditar essas regras, não estaríamos nos reunindo, eu provávelmente não me sentiria tão cansada e 90% da população mundial não estaria comprando presentes como se estivesse estocando farinha na época da inflação. Conversando com um amigo que programava sua ida ao shopping, perguntei se ele não se sentia um pouco pressionado a comprar tantos presentes. Este me respondeu que não comprava por obrigação, comprava porque amava sua família e por isso presenteava os entes queridos. Nova regra da língua portuguesa: comprar e amar se fundiram em um verbo só. Agora eu me pergunto: se as pessoas são tão especiais, como é possível achar presentes à sua altura em uma única ida ao shopping? Se todo mundo compra presente especiais para todo mundo, isso não quer dizer que todo mundo é muito igual a todo mundo? O que me leva a pensar que tudo é feito de maneira impessoal, frígida e estranha: berumda qualquer pra fulaninho, blusinha básica pra mariazinha e por aí vai. E o que era ser um gesto que diz “ você é especial” ao meu ver acaba dizendo “você é qualquer um, qualquer presente, qualquer vale cd de qualquer cantor de sua preferência, porque de qualquer maneira, tô querendo é andar logo pra não pegar fila no estacionamento” Não que eu seja o Grinch e odeie o natal, não é isso. Mas a discussão do que o natal se tornou é válida, mesmo que ela seja mais velha do que o próprio menino Jesus. Que confraternização com povo da firma, o que? Eu já confraternizo com eles quase doze horas do meu santo dia. São por essas e outras que eu me sinto contagiada pelas alergias do natal. Embrulhada pra presente e entregue como um chester de bandeija a todas as obrigações, sem nenhuma chaminé para escapar. A minha única e verdadeira alegria desta época é a ceia, com a minha família sentadinha em volta da mesa, bebendo muito vinho. Porque é com eles que eu tenho vontade de confraternizar, para eles eu dedico pouco tempo da minha vida.
E por falar em família, vou aproveitar para mandar um recadinho: pai, mãe, não vou dar nada para vocês, justamente porque vocês são únicos, ok? Vou comprar quando o presente certo aparecer. Se ele aparecer. Chame de desculpa, eu chamo de sinceridade.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Novo Caviar

Excesso de auto-estima ajuda no trabalho? Quem se dá melhor, o cara que acredita muito no que faz ou o cara que duvida de si mesmo? Até que ponto certeza demais, não é uma sentimento que pode acomodar você? E a dúvida, é motor ou trava? Seria certeza demais, uma artimanha para mascarar a picaretagem? O Paulo Coelho, por exemplo, quando posa na revista das celebridades, acredita mesmo que é um dos maiores escritores do mundo. E o Saramago, será que ele deita a cabeça no travesseiro pensando “sou muito giro”? Ou a dúvida o atormenta e é justamente por isso que ele vai mais e mais longe? O picareta, não pode demonstrar dúvida no que faz, senão não seria picareta. Mas e o verdadeiro autor, o verdadeiro cineasta? Ele olha para o próprio trabalho e acha o máximo? Ou tem aquela sensação estranha de que está ouvindo a própria voz numa gravação telefônica? O artista atormentado com o trabalho é um clichê? Talvez. Mas encontrar o equilíbrio entre a certeza demais e a dúvida cruel não é um conselho clichê também? Outro dia passei em frente a uma lanchonete que se chamava “Novo caviar”. Achei engraçado. Seria excesso de auto-estima se entitular assim? Como diz a propaganda da mais tosca espécie, deu a louca no gerente? Ou o fato dele acreditar que o hamburguinho dele é mesmo um novo caviar, vai fazer do estabelecimento um verdadeiro sucesso? Sinceramente, não sei. Mas que eu vou acompanhar a Novo Caviar de perto, isso eu vou.

Propaganda gratuita


Não tenho experiência no assunto, mas na revista "Pais e Filhos" deste mês, dizem que com o primeiro a gente erra, acerta, morre de medo, no final dá tudo certo e é uma emoção...Wanderléia, minha primeira livrinha na editora do Bispo, com ilustrações Elisa Sassi e produção Mimo. Vai lá ver, vai?

http://www.editoradobispo.com.br/site/