terça-feira, 29 de julho de 2008

Receitinha piegas

Outro dia minha prima casou e fez aqueles rituais todos que eu costumo evitar: cha de cozinha, de cadeira, de bebe, enfim. Ela pediu para que cada convidado levasse uma receita. Como meu forte é a patinaçao artistica e nao a cozinha, levei isso ai:

Receita de bolo, quindin e torta todo mundo tem. Ja a medida da felicidade a gente vai descobrindo aos poucos, colocando um ingrediente, tirando outro, aumentando o forno, deixando as coisas esfriarem com o tempo.

Eis a minha receita


Comece separando um bocado de discos
Esquente com jazz

Reuna alguns amigos em volta de uma mesa
Acrescente vinho, muito, muito vinho


Conte historias mirabolantes que voces viveram, invente outras
Coloque sal e pimenta a gosto

De risadas sem medir o volume
Fale bobagens que amanha voces vao esquecer

Agradeça os elogios pelo jantar que voce comprou pronto
Deixe a louça toda para amanha

Se despeça dos amigos com um abraço de irmao
Apague a luz e va dormir de conchinha.

Mulher de cinza

Era uma vez uma menina de familia rica que começou a crescer e não parou nunca mais. Esticou suas pernas e braços. E um dia acordou sem conseguir respirar. Faltava ar. Ao amadurecer, endureceu. Começou a ganhar dinheiro, que brotava em pé. Pézinho de café. E de tanto enriquecer, de tanto se abrir, perdeu seus modos, sua educação.

Foi violentada e esfriou. De tanto chorar, virou terra da garoa. Foi rasgada por prédios, que não paravam de se erguer. Se tornou mãe e madrasta porque acolheu sem dar trégua. E hoje cria filhos loucos, mendigos, que apesar de seus maltratos, não tem mais a quem abraçar. Incentiva seus bandidos com amargura e exclusão. Satisfaz urbaninhos com seus prazeres da noite. Cuida das unhas de suas socialites e engarrafa as emoções de uma vida passada no trânsito.

Virou empreendedora, constrói e vende felicidade por metro quadrado. Nos Jardins ou Morumbi, você é mais feliz, pode ter certeza. Quem precisa de Paris, quando se tem um dois dormitorios no Chateau de qualquer coisa?
E a gigante cresce assim, de noite ela é magnata: `as vezes usa gravata, `as vezes vestidos com brilho. Freqüenta restaurantes de luxo. Abre as pernas e deixa passar por suas largas avenidas carrões importados, que arranham a sua pele preta de asfalto. De noite ela brilha, esconde suas rugas. Sua pobreza fica debaixo das saias de seus viadutos.

De dia ela é suja, pixada, tem a maquiagem borrada e a camisa suada de trabalho. Esconde pessoas atrás dos vidros, dentros dos carros, debaixo dos capacetes, atrás das janelas. Esconde amores em praças cinzas, ciúmes em cruzamentos engarrafados. Seu sonho é um dia ter um pedacinho de céu.

Sampa, você é assim: um amor que eu nunca esqueci. Quero te fotografar, te explorar, te deixar e um dia pensar nas saudades que você me dá.

Acordei com o pé frio

Numa manhã fria de segunda eu mal acordei e já te conhecia. Você visitou meus sonhos. Era moreno, as vezes loiro, num mes ruivo, no outro castanho claro. Algumas vezes voce tinha uma barriguinha que esticava o elástico da bermuda. Eu gostava e dava aqueles apelidos que só ficam brega nos outros. Você me levava pra jantar, dançar, caía de bêbado comigo. Depois a gente transava a noite inteira. Eu dava risada das tuas caras de sedutor, do teu jeito desajeitado. Te seduzia com os cabelos soltos, fazia pinta de sexy. E nem me preocupava de ter esquecido aquele pelinho extra, nem tão sexy assim.

Gostei de você muito, pouco, médio, não gostei de nada do que você me fez. Tentei descobrir o que você queria, deixei até de pensar em mim. E foi aí que você me assaltou. Roubou meus pensamentos, minha atenção em plena sessão de cinema.

Me deixou nervosa, por gostar demais de você ou angustiada, por me sufocar com os teus presentes. Jogou em mim a fumaça ansiosa do cigarro aceso logo de manhã. Com você eu estou de saco cheio. Mas sem você o tempo não passa. Às vezes é você quem parte, `as vezes sou eu quem sai correndo.

E haja pique para todo esse exercício: dispara, encolhe, abre, fecha, expande, quebra e se distende. Pelo menos de artrite esse coração não morre. Tudo isso por sua causa: Tiago, Rodrigo, Agusto, Felipe, Gabriel, André, foram dois. Tantas vezes eu tentei explicar: gosto da cerveja com as amigas toda terça. Tô querendo ser mais egoísta. Nao preciso de ajuda, mas queria uma maozinha pra trocar a lâmpada. Nao estou te pedindo nada, so sonhando mesmo. Quem sabe um dia voce nao aparece?

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Nome de esmalte

Outro dia eu e as mininis estávamos comentando sobre nomes de esmalte. Gente, nome de esmalte é a coisa mais brega que existe. Por que ao invés de ser roxo ou o vermelho, o esmalte tem que chamar “ final feliz”??? Peloamordedeus, que mente doente é capaz de pensar num nome desses? Será que é para eu achar que tudo na minha vida vai se resolver com uma camadinha de rosa? Além dos românticos, tem a categoria dos esmaltes psicóticos: “malícia”, “ desejo”, “fortuna”, “obsessão”, tem até o “ boa sorte”. Que é isso minha gente, parece que nós somos um bando de loucas, desesperadas, pintando as garras para pegar o primeiro que aparecer na frente. Vai lá filha, passa um “boa sorte” e vê se arranja logo esse marido. Agora, o favorito dos favoritos para mim, a grande poesia dos esmaltes é o “ ti ti ti”. Uma cor inspirada no clima dos salões de beleza. Só pode ser.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Lei seca. Dica número 2

Além de fazer amigos no AA, outra dica boa pra não ser pego pelo bafômentro é comprar um táxi. Ouvi isso e achei simplesmente ge-ni-al.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Aquele dia

Sabe aqueles dias que você olha para fora da janela e acha a vida linda? Ou melhor, aquele dia, porque esses dias não são tantos assim. Pois é, você ouve uma música fofa tipo Kings of Convenience, o céu brilha lá fora, você se sente amada, cheia de amigos, seu cabelo tá bom, nem muito volume, nem pouco, o movimento ideal, chega até a brilhar. Ah como esses dias são raros... A gente pensa que vai dar tudo certo, coisas incríveis ainda vão acontecer. Como se esse dia fosse terminar igual a último capítulo da novela, com todos os personagens da sua vida em um casamento, cada um sorrindo, de de braços dados com seu amor. E no final da cena, todos se abraçam enquanto a câmera vai subindo, mostrando o elenco inteiro. Nesses dias você caminha pela rua em câmera lenta e as árvores soltam folhinhas em cima de você. É como se a sua vida fosse um clipe, as pessoas olham para enquanto você atravessa a rua. Tá tudo bem, tá tudo ótimo, nem que seja só até hoje `a meia-noite.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Deve ser mesmo alguma lei da físia, quanto mais de saco cheio você fica, mais vazio você sente. Hoje de manhã acendi uma vela pro meu anjo da guarda, pedi pra ele mudar a minha vida radicalmente, me trazer um belo espanhol, dono de uma vinícula no sul da França. Com bigodinho charme e tudo. Pedi também pra mudar de emprego, ser descoberta por um produtor famoso e estourar nas paradas da Billboard. Fazer uma tournê pelo mundo. Mas do jeito que a coisa anda, se a casa não estiver em chamas quando eu chegar, já está bom demais. Ah, como é bom ser otimista.

domingo, 13 de julho de 2008

Quando acaba

Quando a gente sabe que acaba? Em qual momento, segundo, em qual dos beijos a gente ja nao era mais a gente? Entre qual filme? Sera que foi no momento em que o microondas estourou dizendo que a pipoca estava pronta? Sera que aquela linha na escova de dentes marcando a hora de trocar foi quem ditou o nosso fim? O que fez da gente dois estranhos, dois mortos que jantam? A gente presta atençao na conversa da mesa ao lado. Nossos beijos sao burocraticos, nosso sorriso é carimbado por uma impressao de fim. Somos o casal da pizzaria de domingo, que senta um ao lado do outro com dois copos de chopp intocados. Eu tomo banho de porta fechada, voce nao me pede mais livros emprestados. Eu nao levanto mais cedo que voce, so para escovar os dentes e dar o primeiro beijo da manha. As vezes acho que meu padeiro me conhece mais. Eu nao vejo mais graça no que voce fala, nao vejo graça em nada, nem nesse texto. Acabou.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Estamos na seca

Pela nova lei, o motorista que ingerir uma mísera gotícula de álcool vai preso. É isso mesmo minha gente, pijama listrado nele. Por isso aí vai a minha dica para você, pinguço que está tremendo de abstinência: faça amigos no AA. Assim você enfia o mocassim na jaca e ainda garante alguém para voltar dirigindo o seu carro. Um brinde`as novas amizades. Garçon, cadê meu uísque?

terça-feira, 1 de julho de 2008

Supercalifragilixpiexpialidoucious

Por que sera que as pessoas mais velhas tem o costume de dizer que o tempo passa rapido, se justamente na vida delas nao acontece nada para que elas tenham essa impressao? Como pode o tempo passar rapido, assistindo reprise de novela e fazendo palavras cruzadas? Apesar dessa constataçao, sabe que ultimamente tenho concordado com elas? Ao fazer quase nada, passando esmalte nas unhas (detalhe que vale a pena comentar: o nome da cor é “final feliz”, nomes de esmalte valem um post so para eles), percebi que os ultimos seis meses voaram, sem que eu fizesse grande coisa. Nao fiz novas amizades, nao fiz uma viagem incrivel e nao descobri a cura para nada, inclusive para o meu tédio. Ao contrario do ano passado onde eu viajei, descobri coisas de dar inveja a Marco Polo, terminei um namoro, comecei outro, mudei de casa, de trabalho e até xaman eu encontrei, estes ultimos seis meses so de castigo, foram tao intensos quanto uma tarde no bingo. Tudo bem, precisava de um tempo para as coisas entrarem em orbita. Mas agora que a casa esta montada, moveis pé palito foram comprados, as plantinhas estao todas regadas, estou esperando as visitas. Alguma coisa incrivel precisa bater à minha porta. Um filho que eu tenho e nao sabia, uma herança, alguma coisa. Sou viciada em acontecimentos, nasci assim, nao tem mais jeito.